15 de maio de 2012

O vazio de um debate sofrível que destrói nossa cultura

Por Carlos Henrique Machado Freitas 

As consequências da sanha e ganância de lucros e poder jogaram o debate sobre cultura no Brasil num profundo vazio. Sem apresentar respostas às várias falhas de um sistema perverso os cultores do messiânico mercado estão de volta com suas sofríveis teorias para o território do mercado cultural.

A tática recorrente dos que falam em negócios da cultura é recarimbar seus discursos com outros títulos e outros vernizes. Foi assim durante esses vinte anos de leis de incentivo à cultura. Pior é que os oportunistas conseguem aprisionar muita gente com essa ideologia e aspiração sagrada ao mercado. E é a partir daí que começa a não valer mais a pena debater cultura. O ambiente está contaminado num nível muito acima do aceitável por um lixo residual da indústria do entretenimento e da captação de recursos públicos.

A oportunidade de abordar os desejos de uma soberania cultural fica desta forma cada vez mais distante já que o uníssono especulativo de quem faz do estado, tática de enriquecimento instantâneo amplia sua força institucional, sobretudo com esse rearranjo corporativo convocado pelo MinC. Vemos muita gente capturada por esse discurso sem fronteiras entre “cultura & negócio” que restaura o “status quo” do capitalismo cultural de estado inaugurado por Collor e levado a pique por FHC que sofreu uma fissura no governo Lula.

O grande problema que persiste no calor da “essencialidade” econômica no campo da cultura é que, num primeiro processo, esse mesmo diapasão não consegue expor nenhuma razão humana para construir uma opinião que integre o país através da inteligência, da criação do que é essencial para a passagem do país de nação passiva à nação ativa nas relações institucionais. Estamos novamente de frente para a opinião européia, valorizando um tema econômico quando deveríamos nos manter distantes, já que este, além de não trazer sinceridade em sua doença de origem, leva ao sétimo grau a sistematização de uma razão alienante sobre a importância da cultura de um país.

O que temos com a economia criativa? Um preparado laboratorial cheio de idéias, gráficos e ações estruturadas no neoliberalismo marxista? Sim, porque o somatório dessas implementações políticas para o setor cultural elabora prioridades econômicas específicas tentando artificializar um fórum social como representante de um sistema, os mesmos que vêm implantando uma específica metodologia especulativa através de negociatas com recursos públicos diante da apatia de uma intelectualidade que não consegue penetração no novo palco que registra mais um monumento ficcional para que continuemos a dar murros em ponta de faca e praticamente não sair do lugar.

Ora, será que é tão difícil fazer uma análise minimamente racional para pesquisar o nosso passado recente e olhar para o futuro com opinião própria? O grande problema é que, depois que a coisa se revela um embuste não se cobra responsabilidade, não se deixa um documento para que no futuro não continuemos com os espíritos estreitados e desprevenidos. Eu insisto em dizer que as relações institucionais da cultura no Brasil vêm dos gestores corporativos que mantêm seus objetivos ocultos de forma lenta e perniciosa trabalhando na destruição do caráter nacional da nossa cultura querendo nos empurrar não só culturas saturadas, mas economias quebradas. Tudo com artifícios celebralistas, anti-nacionais, anti-populares, levando ao extremo a arquitetura de poder, suas matemáticas viciadas e semi-mortas típicas do refúgio dos medíocres para nos jogar numa pretensa economia cultural, sendo que o contorcionismo antiartístico tem uma característica específica no crime lesa-pátria.

Dentro da esdrúxula e falsa economia estética há uma pequena elite de requintados que arranja sempre um jeito de individualizar a questão de um povo riquíssimo em sua criatividade, simulando com gráficos carregados de fábulas a ressurreição de seus fracassos de ontem como é típico do setor privado dependente do Estado.

Se eles querem fazer da cultura um produto, uma atividade de comércio, por que não se desvinculam do Estado? A economia da cultura é mais um salve-se quem puder, comandado por um grupo de manjados capitalistas que vêm polarizando dentro do Estado modelos de gestão pública de cultura, comprimindo a sociedade e financiando suas regalias. Com isso o nosso país, outra vez, está nas mãos de imitadores vulgares que não se preocupam em preservar ou mesmo em aperfeiçoar um único traço fundamental de nossa fisionomia. Tudo se revela a partir de uma alma seca que vive de trocas de premiações redigidas pelas mesmas mãos da classe dominante.

O caráter nacional de nossa cultura está isolado, desfigurado, transformado num monstro de individualismos. Vamos esperar mais um fracasso de tantos acumulados há vinte anos? Vamos mergulhar num novo charlatanismo de meia ciência? Será que ninguém imagina que a única herança que a indústria do entretenimento nos deixou foi um lixo disseminado que envolve questões bem mais graves do que a superficialidade econômica que queremos reinventar?

Essa economia da cultura é um folhetim sem qualquer afinidade com a alma do povo brasileiro. O novo momento inglês no Brasil é conveniente aos espertos, sobretudo os divorciados de qualquer responsabilidade com o futuro do país. Mas enfim está redigida a carta para a realização de uma nova aventura das classes dominantes. Tudo feito sem debates públicos, redigido a toque de caixa para fabricar na base da improvisação mais um talento do charlatanismo da economia cultural.

Sinceramente até que o governo tome outra medida contra o pavoroso messianismo econômico, não dá para discutir cultura. Ficamos nove meses erguendo o nosso grito de alerta na tentativa deter a nefasta infiltração da extrema direita anti-brasileira dentro do MinC. Não dá para ser mais tolerante e ter mais complacência com os prejuízos insanáveis para a cultura brasileira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Compartilhe