Por Carlos Henrique Machado Freitas
Seria razoável analisar as políticas públicas de cultura do governo Lula adotando a sua própria linguagem. Lula, que está longe de ser citado num jantar chique de doutores da cultura, produziu com a elegância de um mestre popular, a revolução cultural tão sonhada pelos modernistas da Semana de Arte Moderna de 22, credenciando principalmente o programa Cultura Viva arquitetado genialmente por Célio Turino.
Gostamos de dizer que as camadas populares produziram neste país na era Lula um espetáculo de cor, de beleza e de absoluta soberania criativa com sua forte presença no Ministério da Cultura. Mas falamos pouco dos encontros muitas vezes silenciosos do comando de Gil e de Juca com Lula. É interessante observar os contrastes entre a completa ausência do nome de Lula das decisões estratégicas e o que representou a invenção e originalidade do seu governo para a área da cultura.
Não li uma linha sequer, uma atitude que fosse capaz de dizer da importância de Lula nesse processo. Deveríamos sem disfarce dizer que a cultura que foi vista com tanta simpatia no MinC da era Lula é a cara do próprio, seguindo seus mandamentos de querer ver no ministério tonificado aquilo que, como cidadão, ele viveu.
Tanto esnobismo, tanto padrão supremo, tanta soberba, tanto francês gasto e ninguém nem timidamente diz alto e em bom som, que toda aquela visão coletiva, livre foi criada dentro do próprio coração de Lula. E essa cultura que brotou espontaneamente no coração do presidente abriu as portas do MinC para os sertões, para as matas, para os quilombos, guetos e para as harmoniosas molduras cantantes que são armas de extrema e rigorosa independência. Isso irritou profundamente a nossa “elite cultural”, sobretudo aquela que circula entre a Avenida Paulista e a Delfim Moreira e que arranca verdadeiras fortunas públicas, via Rouanet.
Lula que desfalca o time dos presidentes doutores, fez emergir a luz da cultura brasileira para o mundo. Não se prendeu a limites estéticos, religiosos ou moralistas, muito menos aos dogmas ortodoxos dos nossos pelourinhos doutrinários. A ideia de Lula era ver o povo, seus sábios e filósofos ocupando os comandos hierárquicos mais altos do país. Ele, mais que ninguém, sabia da nobreza e do rigor científico da suave poesia vinda do povo.
Mas cadê que falamos de Lula! Perpetuamos tudo pela força dos músculos professorais. Lula, com a sua intuição extraordinária, assinou sem cochilos a entrada no MinC dessa natureza que chamamos de alma brasileira. Logicamente que uma estrutura tão esquizofrênica, mal formada que é a estrutura do Estado nas relações institucionais da cultura, nem todos os rebentos surgidos do povo puderam romper a infinidade de taras e aleijões doutorais.
Mas devemos sempre lembrar que o General dessas célebres mudanças foi Lula com o reforço fundamental de Gil, Juca, Manevy, Célio Turino e tantos outros protagonistas que se sentiram fortalecidos em transportar o melhor do nosso ponto estratégico, o próprio povo, para erguer a soberania cultural, não em nome de uma retórica de um patriotismo ufanista em transe como assistimos em muitos países colonialistas, mas uma realidade simples dos mortais que, no Brasil, era vista como pirata e, portanto, segregada.
Lula que não ergue estátua a qualquer vulto da cultura mundial, conquista um azoto e nutre toda uma composição, praticando acima de tudo, as sábias adubações do povo brasileiro. Mas por que não falamos de Lula no conjunto de noções extraordinárias que surgiu sob o seu comando? Por que tanta cautela para associar Lula ao extraordinário e revolucionário laboratório surgido no MinC nas gestões de Gil e de Juca? Por que falamos tanto do milagre e não falamos do santo?
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