A ausência de peças das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste na mostra oficial do Festival de Teatro de Curitiba faz levantar duas suspeitas. Ou a curadoria do festival não está dando atenção ao cenário de fora do eixo Rio/São Paulo/Belo Horizonte; ou esse mesmo cenário perdeu forças nos últimos anos e, portanto, deixou de ser representado.
Tânia Brandão, umas das curadoras do festival, diz que a organização do evento pesquisou os cenários de cidades como Manaus, Recife e Salvador, mas que a busca não deu resultados. "É complicado, porque não podemos deixar de olhar para essa produção [do eixo Rio/São Paulo], que é de nível muito alto e produzida em grande quantidade. Nas outras cidades do país não encontramos esse volume; este ano não houve espetáculos [dessas regiões] que pudessem integrar a mostra", diz.
O dramaturgo e diretor pernambucano Antonio Cadengue acha que falta à organização do festival uma "generosidade no olhar". "Não dá para cobrar que haja por aqui uma produção artística igual à de São Paulo, sendo que vivemos realidades que derivam de histórias e de tradições diferentes", argumenta. "Existem peças boas aqui, só que são feitas sob um outro contexto cultural", completa.
No entanto, Cadengue, que já participou do conselho do Festival de Teatro de Recife, reconhece uma "retração" no cenário das artes cênicas do Nordeste. Segundo ele, na capital pernambucana, por exemplo, há hoje apenas uma boa escola de formação de atores, mantida pelo Sesc. "E é uma escola de nível técnico elementar", diz. "Decresceu a produção, por conta de dificuldades de captação de recursos e porque o público perdeu interesse na produção local", analisa.
O bailarino e ator Maurício Motta, que participou do Fringe de Curitiba com a peça "Sente-se", confirma a dificuldade de encontrar patrocínio particularmente em sua cidade-sede, Natal. "Até existem ferramentas de incentivo. Mas mesmo alguém que consegue aprovação de uma Lei Rouanet, por exemplo, depois continua tendo muita dificuldade para captação", diz.
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